A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) está reconsiderando sua intenção inicial de se mudar para a Itália e avalia agora a possibilidade de permanecer nos Estados Unidos, onde pretende solicitar asilo político, aproveitando o alinhamento com o ex-presidente Donald Trump, pré-candidato à presidência em 2024. A própria parlamentar confirmou a informação à CNN nesta terça-feira (4).
“Talvez fique aqui nos EUA mesmo”, disse Zambelli, que deixou o Brasil após medidas judiciais determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de investigações contra ela.
Na segunda-feira (3), Zambelli havia revelado que pretendia se estabelecer na Itália, utilizando-se de sua dupla cidadania. A ideia era buscar proteção com base na nacionalidade italiana, mas, segundo apurou a CNN, houve um cálculo equivocado em relação à real eficácia dessa medida.
A Itália, ao contrário do que muitos supõem, extradita seus próprios cidadãos. O país europeu já atendeu a pedidos de extradição do Brasil no passado, como nos casos do banqueiro Salvatore Cacciola, extraditado em 2008, e do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que retornou ao Brasil em 2015 após fugir do cumprimento de pena por corrupção no escândalo do mensalão.
A situação de Zambelli ganhou atenção na política italiana. O deputado Angelo Bonelli, líder do Movimento Europa Verde e da Aliança Verde, questionou os ministros italianos das Relações Exteriores, da Justiça e do Interior, pedindo que o caso seja tratado com seriedade e dentro dos acordos de cooperação jurídica firmados entre Brasil e Itália.
O tratado bilateral de extradição entre os dois países, assinado em 1989, assegura a possibilidade de extradição, mesmo em casos envolvendo cidadãos com dupla nacionalidade. Especialistas ouvidos pela CNN explicam que não há garantias de que o governo italiano se recusaria a entregar Zambelli à Justiça brasileira, caso houvesse um pedido formal.
Estados Unidos como plano B (ou A)
Diante da insegurança jurídica na Itália, Zambelli passou a considerar com mais força permanecer nos Estados Unidos. A possibilidade de asilo político é cogitada com base no alinhamento ideológico com o movimento conservador americano e na dificuldade dos EUA em atender a pedidos de extradição feitos pelo Brasil.
Segundo especialistas, o tratado bilateral entre os dois países é mais restritivo, aceitando extradições apenas para crimes específicos, e mesmo nesses casos o processo precisa passar por diversas instâncias da Justiça americana. Na prática, os EUA são mais reticentes em colaborar com o Brasil nesse tipo de cooperação.
Além disso, Zambelli conta com o apoio informal de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o deputado Eduardo Bolsonaro, que mantém relações próximas com figuras do trumpismo.
Situação jurídica delicada
Zambelli está no centro de investigações conduzidas pelo STF, com medidas como o bloqueio de contas bancárias e buscas autorizadas por Moraes. O ministro afirmou, em decisão recente, que a deputada “fugiu do distrito da culpa” ao deixar o Brasil, sugerindo uma tentativa de escapar do alcance da Justiça.
A defesa de Zambelli, até o momento, não confirmou oficialmente se já deu início ao processo de pedido de asilo nos Estados Unidos. A parlamentar também não informou se pretende retornar ao Brasil em breve.
Enquanto isso, a incerteza sobre seu futuro jurídico e político continua, agora com foco voltado a Washington – e não mais a Roma.
*Fonte: Portal Tucumã